segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FIM de uma missão...INÍCIO de uma vida?


A nossa missão na Manga chegou ao fim. Terminou uma etapa…esperamos que esteja a começar uma vida nova para cada uma de nós.
Estes 9 meses foram muito mais que uma boa experiência. Foram a alavanca para perceber que o ”bichinho” que nos trouxe até cá estava cheio de razão! Era esta a mudança que precisávamos na nossa vida…é isto que nos faz sorrir!
Tudo foi vivido intensamente. Absorvemos a experiência ao máximo, tentámos sempre ver tudo para além do que estava em frente aos nossos olhos, perceber a cultura, criar empatia com as pessoas, quebrar preconceitos… até que de repente percebemos que, aquilo que no início parecia estranho, estava agora completamente entranhado em nós!
Moçambique é um país apaixonante, com pessoas simpáticas e genuínas que em cada esquina param com a sua calma natural apenas para “saudar”, dizendo “Bom dia! Como estão? estão a ir aonde?” ou se for uma criança, “Titia! Está bonita você!!”
Aqui fica um MUITO OBRIGADA a todas as pessoas que nos fizeram felizes. Que foram abertas e nos deixaram entrar no mundo delas. Que nos trataram bem e ainda se mostraram gratas apenas pela nossa presença. Acima de tudo, obrigada por nos terem proporcionado tão grande crescimento interior e por nos terem feito ver que é possível viver de outra forma…muitas vezes com pouco, mas sempre com um sincero sorriso nos lábios.
Neste momento coloca-se a questão: Como vamos conseguir voltar? Embora ainda sem resposta o nosso coração diz que uma parte de nós já pertence aqui. Como dizem os Moçambicanos, “pouco, pouco” vamos conseguir descobrir o caminho de volta.

domingo, 14 de outubro de 2012

Explicações dos bolseiros

Está quase a chegar o dia de fazer as malas… (momento difícil!) Mas levamos na mala coisas que nem nela conseguimos guardar, que vão connosco, entranhadas na pele, no que somos agora, cunhadas por tantos momentos aqui vividos e sentidos!
Vários desses momentos foram partilhados com os bolseiros da SOPRO, quisemos sempre fazer mais por eles, dar-lhes mais apoio complementar, e entre as várias ações que empreendemos como visitas domiciliárias, sensibilização dos encarregados de educação, sensibilização para a importância do estudo, distribuição da merenda escolar, roupas e material escolar, queremos ainda destacar as explicações aos bolseiros.
A afluência foi tanta logo no primeiro dia que tivemos de criar 3 grupos diferentes de estudo organizados por classe: da 1ª à 4ª classe, 5ª e 6ª classe e da 7ª à 12ª classe. Participámos nos dois primeiros grupos e contámos com a ajuda fundamental de dois bolseiros exemplares da 11ª classe para as explicações do 3º grupo – uma esperança para a continuidade no futuro!

Do nosso ponto de vista, esta foi uma iniciativa fundamental não só para e pela aquisição de conhecimentos mas também pela valorização do esforço e pela confiança das crianças e jovens nas suas capacidades.
Com o aproximar da data de partida, a quarta-feira passada foi o último dia de explicações. Das crianças levamos o sorriso e o abraço de agradecimento! Estamos juntos!





sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma semana pela educação em Estaquinha e Barada

Foi, mais uma vez, um enorme privilégio poder viajar até às missões de ESMABAMA. Faltava-nos conhecer Estaquinha e Barada, estávamos ainda mais motivadas do que da última vez, pois esta não era uma viagem apenas para conhecer, mas com a expectativa de darmos também o nosso contributo.
Saímos da Manga no sábado e a “pouco pouco” fomos deixando de ver tanta gente, os carros diminuíram, depois deixamos de cruzar na totalidade estradas alcatroadas… Em tempos diziam-me que nos devemos deixar envolver pelas viagens, que elas são uma preparação para o que nos espera. Foi isso que senti na travessia de batelão do Buzi: que nos aproximamos de uma riqueza no coração de Moçambique.
E se formos atentos as viagens têm mesmo muito para nos contar porque não mudam só as paisagens, mudam os modos de vida, mudam os dialectos, mudam as distâncias que são maiores para qualquer lugar que se possa imaginar, aumentam as dificuldades, a lei da sobrevivência impera!
Por isso admiramos tanto o trabalho que tem sido conquistado pelo Padre Ottorino. Em termos cabais é mesmo impossível descrever o contributo de uma vida inteira dedicada a estas populações, que de outra forma não poderiam ter acesso à educação da 1ª à 12ª classe, a um centro de saúde, maternidade, escola agrária e internatos onde ficam muitos dos alunos mais crescidos que assim acabam por compensar as distâncias incalculáveis.



ESTAQUINHA
Há situações que parecem ser fora da vida real e dificuldades imensas pelas quais passam as populações que muitos achariam difícil de acreditar. Mais uma vez gostávamos de poder trazer até cá todos quantos conhecemos porque às vezes até as fotografias parecem mínimas para mostrar quanto se vive aqui: quando crianças com 6 anos, e de estômago vazio, percorrem todos os dias um caminho de mais de duas horas para poderem estudar todos os dias, é mesmo real; quando uma família inteira e enorme vive numa cubata sem qualquer divisão, é mesmo real; sinto na pele as imensas carências da população com as minhas sapatilhas já rotas a serem cobiçadas por quem nem chinelos tem e caminha, caminha, caminha, caminha descalço…

O trabalho…
Em dois momentos distintos partilhámos com as turmas da 10ª e da 12ª classe “Métodos de estudo” e técnicas para a preparação destes alunos para os exames no refeitório masculino do internato.
Os alunos mostraram-se bastante recetivos e aproveitaram o momento, contrapondo com a sua vivência quotidiana de estudantes e tendo em conta os desafios que encontram.

Com os professores vivenciámos um momento de enorme riqueza que foi o debate que foi gerado ao longo do encontro que dirigimos sobre o papel do professor enquanto vocação e enquanto educador. Foi muito bom contar com uma audiência muito participativa pronta a expor as suas preocupações e os desafios do dia-a-dia sem rodeios e sem meias palavras.




BARADA
Ao meio do dia de quarta-feira, à chegada, fomos logo conquistadas pela paisagem de coqueiros a perder de vista que tornam Barada uma missão tão bonita.
O verde, a proximidade com o mar e com animais mais difíceis de avistar, como macacos que insistem em fazer incursões à horta, parecem transportar-nos para um lugar longe de tudo, uma ilha de esperança para todos quantos nela contribuem, estudam ou se deslocam para receber um tratamento.

Aqui o nosso contributo, devido à passagem mais rápida, foi com os alunos da 10ª e da 12ª classe num espaço, à partida, um pouco invulgar: a capela da missão. Nela reunimos com as 7 turmas da 10ª classe e as 4 da 12ª classe e “evangelizamos” o conceito de estudar, esclarecemos algumas dúvidas, abrimos um espaço de apoio e reflexão por melhores resultados no sucesso escolar.
Mais uma vez foi bom contar com a partilha dos alunos que acolhem estes momentos muito bem.






De volta à Manga já sentimos saudades das missões e das pessoas que fazem as missões. São lugares onde se batalha ainda mais de sol a sol mas com o trabalho conjunto de todos consegue-se dar alento neste oásis para toda a população circundante. Ali ninguém é pobre ou desafortunado, para nós são heróis que caminham connosco!
Por cá também ainda há muito para continuar a fazer, voltámos ao nosso “posto” e a um mês da partida para Portugal não queremos deixar nada por fazer…



P.S.: imagens ilustrativas em breve no nosso facebook pessoal, devido a constrangimentos da largura de banda.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Alertando consciências para o HIV SIDA

A nossa missão em Moçambique foi sempre pautada pela diversidade de momentos de formação que proporcionamos tanto a alunos, como a professores da escola João XXIII.
Durante os últimos 3 meses, todos os alunos entre a 7ª e a 12ª classe tiveram oportunidade de participar duma formação e debate sobre as questões da sexualidade e HIV SIDA. Em Moçambique o número de casos de sida é alarmante… e a província de Sofala, onde nos encontramos, é das mais afectadas. Por isso todos os esforços no sentido de poder clarificar este tema são fundamentais. Esta formação foi proporcionada pela Pastoral da escola, em parceria com a ONG Moçambicana PSI, especializada na área e fundamental para passar eficazmente a mensagem.
A nós competia-nos abrir a sessão, apresentar A PSI e falar sobre alguns conceitos fundamentais quando falamos de sexualidade, como respeito e responsabilidade. O nosso objectivo era passar a ideia de que não devemos ter ansiedade em relação ao início da nossa vida sexual, que devemos ser maduros e saber o que estamos a fazer para não nos prejudicarmos a nós próprios ou aos outros, pondo-nos em situações de risco.
Outras questões mais específicas sobre o HIV Sida ou outras ITS, o uso do preservativo, a gravidez precoce ou indesejada, os benefícios da circuncisão, as desvantagens de termos diversos parceiros sexuais, entre outras, eram tratadas pela PSI, que mostrou sempre muita abertura e facilidade de comunicação com os alunos da escola. Esta abertura e troca de ideias é fundamental para acabar com tabus e ideias falsas que muitos jovens e adultos ainda têm sobre o HIV Sida. Muitos ainda não estão bem esclarecidos e não sabem ainda como este vírus se propaga ou tudo aquilo que devem ter o cuidado de NÃO fazer! Por outro lado, há quem acredite em ideias falsas e perigosas…há quem pense ainda, por exemplo, que os preservativos estão contaminados com Sida e que por isso é melhor não usar.
São inúmeras as questões que devem ser faladas. Sempre e de forma continua! Será a única forma de fazer entrar na cabeça de todos os Moçambicanos que o vírus está aí e qualquer um de nós pode contraí-lo. A única forma que temos de nos proteger é sempre através da responsabilidade e da prevenção! Esperamos que esta formação tenha sido mais um pequeno passo nesse sentido.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Novo desafio: alfabetização


Sentimos imenso carinho pelo Centro Assistencial e Educativo La Salle, é aqui que na maior parte das nossas tardes damos apoio a crianças que no período da tarde se deslocam ao Centro para receber apoio escolar e explicações. Este é também um espaço onde podem brincar e encontrar os seus amigos. Para além disso, é um espaço que serve de refúgio a muitas crianças que de outra forma estariam desprotegidas pelas ruas…

A nossa intervenção começou por ser sobretudo no apoio de explicações. Nessa altura logo reparámos que muitas crianças tinham imensas dificuldades ao nível do português: muitas mal sabiam ler e tinham muitas dificuldades de escrita apesar de se encontrarem em anos de escolaridade acima da 4ª classe.
Decidimos então colocar à prova todas as 3 turmas que tinham aulas de reforço no Centro. Queríamos perceber realmente qual era o verdadeiro panorama e este panorama foi, de facto, assustador: mais de metade dos alunos do Centro, cerca de 80 alunos, não sabia ler nem escrever…

Decidimos, portanto, reformular a organização das aulas e o modo de distribuição dos alunos: não pelo ano que efetivamente frequentam na escola mas sim pelos seus conhecimentos. Desta forma, os alunos foram agrupados em 4 turmas: duas turmas de alfabetização (com divisão pela idade), uma turma com forte apoio na língua portuguesa e na sua componente gramatical e uma quarta turma de apoio multidisciplinar. Para além disso todos estes alunos contam com ajuda na elaboração dos “TPCs”.

Então, desde há cerca de 3 meses para cá, “’pressora” Mariana e “’pressora” Rosa agarraram o desafio de trabalhar com uma turma, batalhando pela literacia destas crianças com idades entre os 8 e os 11 anos.
Procuramos ao máximo estimular estas crianças com a prática do desenho e escrita das letras, jogos de palavras e sons, leitura de contos, o contar histórias, músicas e cantos, dramatização e expressão plástica.
Estamos contentes por ver uma evolução por mais pequena que seja, pois muitas vezes estas crianças não recebiam atenção e não lhes era colocado qualquer nível de exigência…

Em breve com a saída de um dos professores o número de turmas a cargo subirá para duas, aumentando a exigência deste desafio que estamos a adorar!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Heróis ou anti-heróis?


No sábado, dia 2 de Junho, promovemos um encontro entre todos os professores da escola João XXIII. Este encontro foi subordinado ao tema “Professor Educador”, onde quisemos passar uma ideia chave: os professores podem, e isto de facto acontece, ser uma âncora fundamental para os seus alunos, podem ser coadjuvantes no seu dia-a-dia para que eles possam construir uma vida, uma história, um futuro feliz.

Também nós tivemos bons modelos de professores, professores que vamos recordar para sempre, que foram bem mais do que professores e nos souberam mostrar valores, lançar reflexões pertinentes, enfim que nos fizeram crescer enquanto pessoas…

Sentimos necessidade de preparar com dedicação este tema numa das nossas visitas às missões. Isto porque por muito que se fale em investimentos em educação em Moçambique, as lacunas enormes surpreendem-nos todos os dias… O que nos deixa também a pensar “Como podemos nós deixar de tentar melhorar a vida dos que nos rodeiam por aqui, no mínimo que seja?”. Surpreendemo-nos mesmo em constatar, cada vez com mais profundidade, porque também cada vez mais vamos conhecendo o terreno em mais detalhe, que esta terra é quase abandonada e esquecida… Mas isso seria tema de um outro post…

As lacunas na educação passam também pelo corpo docente, em relação ao qual verificámos algumas situações preocupantes tanto no nosso “posto base”, aqui na Beira, como também nas missões (onde há situações gritantes devido ao isolamento): num país onde o desemprego é explosivo e existe uma carência enorme de professores muitos escolhem esta profissão apenas como uma função e não uma vocação; a ética e comportamentos são muitas vezes indesejáveis. Por aqui se pode ver que em muitos casos existe uma ausência de percepção da importância que o professor pode ter – um elo fundamental entre a escola, o aluno e os encarregados de educação. Só podemos contar com cidadãos mais responsáveis se cada uma destas partes cumprir a sua missão.

Desta forma, na formação que preparámos quisemos inspirar os professores para que eles tenham uma visão real da importância indiscutível que eles têm na vida de cada uma das crianças e jovens. Algumas das principais ideias que transmitimos:
- Não devemos olhar para um professor apenas como um mero interlocutor que transmite conhecimentos, mas também como um elemento fundamental na formação de cidadãos conscientes;
- A importância de estar bem informado e ser uma ponte de reflexão sobre temas de formação humana que não podem ser ignorados e reflectem as preocupações quotidianas de todos os alunos: valores e moral; higiene; sexualidade e HIV SIDA; a importância da educação da rapariga e da mulher; a importância do estudo e responsabilidade do aluno e também a responsabilidade do professor, que é fundamental; o respeito pela diferença física e mental ou psicológica dos alunos; o interesse em promover a cultura, ter espírito crítico e manter-se actualizado.



Esperamos ter contribuído para uma reflexão mais aprofundada dos professores. E no final deixámos uma pergunta no ar:


















quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mais um passo para o sucesso escolar

No passado sábado convidámos todos os alunos bolseiros e seus encarregados de educação para estarem presentes, pelas 8h, na escola João XXIII. Os resultados menos positivos do 1º trimestre e o consequente receio que muitos alunos percam as suas bolsas de estudo, foi o que nos moveu a promover esta reunião.
Apesar dos já habituais atrasos à moda moçambicana, a plateia acabou por ficar muito composta! Porque nunca é demais, falamos de vários aspectos relativos às bolsas de estudo (o que inclui a bolsa? O que não inclui? O que fazer para não perder esta bolsa?); consideramos muito importante que todos estejam bem informados para que o projecto de apadrinhamento possa ter continuidade e seja bem entendido por todos.
Mais do que isto, este encontro teve como principal objectivo sensibilizar alunos e respectivos encarregados para o facto de que, só todos juntos, cada um cumprindo o seu papel, conseguiremos alcançar o sucesso escolar. Mais ainda, fazer entender que este sucesso é, não só, a única formula para manter as suas bolsas, mas também para poderem sonhar com um amanhã mais alegre!
Tivemos ainda a satisfação de poder distribuir algum material escolar por todos: 2 cadernos, 2 lápis, 2 canetas e 2 borrachas, foram a preciosa ajuda que foi oferecida a cada um. Acreditamos que, para sermos bons estudantes não basta frequentar a escola…é preciso reunir algumas condições básicas. Como se diz na gíria, não é possível fazer omeletas sem ovos… assim, também não podemos estudar sem ter, no mínimo, como e onde escrever aquilo que vamos aprendendo!
Temos fé que esta iniciativa tenha sido mais um passo no sentido da melhoria, sempre contínua, na vida escolar destas crianças e jovens que, sem dúvida, merecem o mesmo que todos os outros: crescer e evoluir de forma consciente, completa e feliz!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Saber estudar é essencial para o sucesso escolar!

O insucesso escolar é uma realidade em Moçambique. Com esta consciência e também com o objectivo de tentar ajudar os alunos bolseiros da Sopro, para que não percam a oportunidade que tiveram, graças aos padrinhos portugueses, de estudar na escola João XXIII, preparámos uma acção de formação sobre Métodos de Estudo.

Em conjunto com a Pastoral da escola, iniciámos a formação no dia 27 de Março. Esta será aplicada à maioria dos alunos da escola, inicialmente a partir das 8as classes, estendendo-se depois para as restantes classes anteriores (até à 4ª classe). Esta acção tem como principal objectivo sensibilizar os jovens e as crianças acerca da importância do estudo para alcançar um futuro melhor; por outro lado, esta formação tem também a finalidade de prover os alunos de métodos e técnicas que devem usar para conseguir estudar com mais eficiência.

Todas as turmas têm direito a um acolhimento em cada sessão com música e viola… assim, “quebramos o gelo” e concentramo-nos no que importa. De seguida, para sensibilizar os alunos, apresentamos uma pequena história sobre dois meninos naturais da Beira – A Samira e o Domingos. Aqui é feito um paralelismo entre a Samira, que estuda correctamente, vai às aulas e tem um futuro risonho, em contraste com o menino Domingos, que é distraído e não faz os TPC…tendo um futuro menos feliz e dependente da produção da machamba… De uma maneira geral, os miúdos reagem bastante à história e tiram boas conclusões, como, “temos que estudar para termos um futuro melhor e podermos ajudar a nossa família!”

Terminada a história inicial, passamos à formação em si: tópicos como “Estar atento nas aulas”, saber “Trabalhar/ estudar em grupo”, “Ler de forma eficaz”, “Gestão do tempo no estudo”, “Como fazer um bom trabalho”, entre outros, preenchem o restante tempo.

Com turmas bem grandes (cerca de 50 alunos) e, muitas vezes, pouco disciplinadas, por vezes é difícil manter toda a gente concentrada e interessada…contudo, temos consciência que temos dado o nosso melhor e que, até agora, a formação em Métodos de Estudo está a ser um sucesso! Os alunos têm-se revelado bastante participativos e também gratos pela nossa colaboração. Resta agora saber se vão aplicar os novos conhecimentos adquiridos e se, no final do ano, os resultados vão espelhar o seu entusiasmo. Para o bem deles, esperemos todos que sim!

terça-feira, 27 de março de 2012

Lanche escolar para os bolseiros

Em Portugal não precisamos de remontar a muitas gerações atrás para sabermos de casos dos nossos avós ou amigos dos nossos avós para quem estudar era mesmo um privilégio. As famílias tinham poucos recursos, vivendo a maioria da agricultura, e era muito comum as crianças destas famílias irem até à escola de estômago vazio.

Aqui em Moçambique ainda se passa algo semelhante...
Às vezes damos por nós a observar e a sermos surpreendidas pela resistência do povo Moçambicano... Debaixo de um calor abrasador (que a nós de pele clara nos deixa logo "rosadinhas", ou com "tez indiana" no caso da Mariana, e a verter água por todos os poros) cá estão eles a fazer esforços físicos enormes, a percorrer longas distâncias... mas já será bom se pudessem pelo menos ter uma refeição por dia! E assim aguentam os longos dias africanos quando nós certamente cairíamos para o lado...

Também assim é com as crianças, e com as crianças apoiadas pela SOPRO, crianças estas das famílias mais carenciadas... Quando toca para o intervalo elas correm sorridentes até à cantina para lhes ser distribuído o lanche escolar (são 15h15 da tarde mas para muitas esta será a primeira refeição do dia!).

Este lanche escolar (um pão e uma peça de fruta) é um complemento muito importante dado pela SOPRO a todas as crianças que estudam até à 6ª classe. Quem consegue estudar, a bom estudar, de barriga vazia?


Os sorrisos destas crianças maravilhosas dizem tudo...




terça-feira, 20 de março de 2012

Visitas às Missões - Parte II





A visita à missão de Mangunde foi especial. Aguçou ainda mais em nós a vontade de desenvolver trabalho humanitário por Moçambique fora…

Quando chegámos a Mangunde, depois de um dia inteiro na estrada, fomos acolhidas com um delicioso jantar na casa das Irmãs Combonianas, aliás onde permanecemos, muito bem instaladas, durante os 3 dias da nossa estadia lá.

Acordámos no dia seguinte na expectativa daquilo que iríamos encontrar. Apesar de já termos estado na missão de Machanga e conhecermos assim os traços principais de uma missão, sabíamos que Mangunde era maior, um pouco mais desenvolvida, e que, cada missão acaba por ser única. Aqui sim, tivemos tempo para conhecer tudo com mais pormenor e apercebermo-nos da realidade, bem como da forma como poderíamos intervir. Apesar do isolamento que se sente no início, a experiência de viver numa missão acaba por ser muito forte e essa sensação de isolamento vai desaparecendo, dando lugar a um grande sentimento de paz!

Percorremos tudo: A escola (onde falámos com o pedagógico sobre as principais necessidades e assistimos a uma aula de Inglês), a escola agrária, os internatos (masculino e feminino, ambos com regras de funcionamento rigorosas, onde os alunos trabalham em equipa para que tudo funcione bem, desde a cozinha aos balneários), o centro de saúde (que tem também maternidade e centro de testes e tratamento para o HIV Sida), a padaria, as machambas, a igreja, o rio e até o enorme embondeiro (símbolo de ESMABAMA e marco da chegada a Mangunde).




Embora com a falta de muita coisa, a missão de Mangunde consegue dar a muita gente uma vida melhor e, sobretudo, a esperança num futuro mais promissor! Quantos jovens e crianças podem assim ter acesso à educação e a padrões e valores de vida que dificilmente teriam se não existisse esta missão? Mais, quantas pessoas que devido ao grande isolamento, só desta forma têm acesso a melhores condições de saúde?

Que valioso é o trabalho desenvolvido pela equipa de ESMABAMA… e que vontade de também nós podermos abraçar este projecto!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Visitas às missões – parte I

As Missões de ESMABAMA (“ES” vem de Estaquinha, “MA” de Machanga, “BA” de Barada e “MA” de Mangunde) foram missões construídas pelos missionários portugueses na província de Sofala (província a que também pertence a cidade da Beira). Com o término do regime salazarista a igreja perdeu poder e o suporte por parte dos missionários portugueses nestas missões em Moçambique também teve o seu fim. Veio a independência e a guerra civil e as missões ficaram sem que ninguém lhes indicasse rumo…
Chegado o ano de 1990, ainda em plena guerra, foi lançado ao Padre O., missionário Comboniano, o desafio de revitalizar todas estas missões. Mesmo em plena guerra teve a coragem de vir para Moçambique e abraçar este projecto apaixonante com uma caminhada também muito íngreme de muitas batalhas.
Durante estes 22 anos tem feito um trabalho muito louvável, sempre com a colaboração dos irmãos Lassalistas e outros missionários combonianos, entre outras entidades.
Foi dele que apanhámos boleia para conhecer a missão mais longínqua, Machanga, ouvindo histórias que nos fascinaram durante os mais de 600 km que percorremos no domingo.


Até Machanga fizemos cerca de 440 km, alguma da estrada em bom estado mas tanta outra com “buracos-cratera”, estradas estas que são muito concorridas com os grandes camiões de mercadorias (não poucas vezes se vê um camionista a tentar resolver um problema de avaria), e ainda um troço de 60km de terra batida em versão todo o terreno. Todas estas questões tornam as viagens muito mais longas e cansativas, mas são viagens que valem muito a pena!


Em Machanga pudémos começar por conhecer a organização geral das missões: são constituídas por um internato feminino e outro masculino, o edifício geral da escola (que é o mesmo da escola agrária, semelhante a uma escola profissional) e um centro de saúde (neste caso localizava-se fora da missão, apenas alguns metros mais à frente).
Apesar da passagem fortuita de pouco mais de duas horas, muitas coisas marcam seja pela tenacidade com que se debatem as pessoas dedicadas à missão, seja pela força de vontade que as crianças e jovens têm de ter para percorrerem quilómetros para poderem estudar ou por partilharem o seu espaço e comida com tanta gente que tal como eles podem sonhar com uma vida melhor…


Dissemos adeus a Machanga e estávamos de novo de volta à estrada. Percorremos para cima de 200km, pelo caminho algumas aventuras e uma paisagem de encher o olhar… corujas de braços longos que se elevavam pela passagem do carro no “seu caminho”, o céu estrelado sem igual, o céu que se coloria com o relampejar de alguns relâmpagos…
Bem de noite apenas dissemos olá a Mangunde, missão onde acordaríamos nos dias seguintes… (estes são relatos para os próximos posts)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sensibilização junto das famílias dos bolseiros

Grande parte dos bolseiros apoiados pela SOPRO são de Chimpaca, um bairro que fica mesmo por trás da escola João XXIII. Enquanto voluntárias no terreno assumimos como grande compromisso a sensibilização das famílias, e dos próprios alunos, para a importância do estudo.


O primeiro passo tem sido dado junto das famílias, quer em reuniões na escola como em visitas às casas destas famílias mais carenciadas, que precisam do apoio das bolsas da SOPRO.
Nestas reuniões as famílias são esclarecidas sobre o protocolo estabelecido entre a Escola João XXIII e a SOPRO, de modo a que tenham conhecimento das regras a serem cumpridas para a manutenção da bolsa. Aqui são importantes algumas questões como o aproveitamento escolar e o bom comportamento das crianças, entre outras.
Para além disso, realçamos como é importante incentivarem as crianças e jovens ao estudo, acompanharem os conteúdos dados nas aulas, darem-lhes tempo para além dos afazeres em casa para estudarem, estudarem eles mesmos com eles ou pedir a um familiar ou amigo que estude com eles, assim como manterem o contacto com a escola e os professores – estas entre outras dicas.


Durante as nossas visitas a Chimpaca fomos sempre brindadas com uma recepção muito carinhosa por parte das crianças. Como somos diferentes, e novidade, elas seguiam o mesmo percurso que nós, sorriam e cantavam. Quando dávamos por ela já tínhamos mais de 20 crianças atrás de nós que a pouco e pouco foram ganhando confiança. E, com confiança conquistada, agarravam as nossas mãos… Nunca pensámos que em cada mão coubessem mais 5! (Eles não se importam de partilhar e já ficam todos felizes por agarrar um dos nossos dedos)



Não podemos terminar este relato sem referir o quanto as famílias destas crianças nos agradecem. Por isso daqui, directamente de Moçambique, e para os padrinhos e madrinhas, também o nosso muito bem hajam por darem esta grande oportunidade a estas crianças. Nascer numa situação como a delas é muito limitativo mas esta oportunidade de estudo pode tornar muita coisa reversível. Estas crianças e estas famílias ganham esperança e sonham com um futuro melhor… São os padrinhos que tornam tudo isto possível!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Centro Assistencial / Educativo de La Salle

O trabalho que começamos a desenvolver no Centro Assistencial de La Salle tem sido, por um lado, o mais gratificante de tudo! Por outro lado, temos a sensação de que poderá gerar frustração nas nossas mentes fervilhantes de vontade de mudar uma pontinha do mundo…

Começamos desde a semana passada a fazer estudo acompanhado a crianças que, apesar de estarem já num nível avançado de escolaridade - por exemplo, na 7ª classe - não sabem ler nem escrever, porque nunca tiveram o devido apoio e porque em Moçambique, na maioria das escolas passa-se automaticamente de classe e as turmas são enormes (em média 60 alunos).

Para além disto, sempre que chegamos ao centro somos bem recebidas e acarinhadas pelos jovens e pelas crianças que o frequentam. Mesmo quando passamos na rua chamam por nós: "Professora, professora!", enfim, a maneira como nos tratam deixa-nos um sorriso arrastado na cara e uma grande vontade de fazer mais e melhor.

Estes miúdos compartilham connosco as histórias das suas vidas e também as suas habilidades. É impressionante como, mesmo crianças com 2/3 anos, já sabem dançar como autênticos bailarinos profissionais!
Cantar e dançar é mesmo o que estas crianças melhor sabem fazer. Deixamos um vídeo ilustrativo disso mesmo!






Vejam mais este :)





Esperamos que, apesar das dificuldades com que nos deparamos, consigamos dar um bom contributo para que o futuro destas crianças e de Moçambique seja mais risonho e cheio de esperança!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Com a educação podemos ajudar muitos a sonhar…

De pé na rua, para onde quer que se vá pensamos se a vida dos que nos rodeiam poderia ou não ser diferente: aqui na Manga há vários cinemas de rua (barracas onde se projectam filmes), muitos deles repletos de crianças; outras crianças deambulam pela rua, muitas pessoas fazem os dias no comércio de rua onde se vende mesmo de tudo, sem condições em bancas precárias – é a única forma que têm de arranjar alguma maquia para viver no dia.
Aqui há tantas, tantas, tantas crianças! Muitas têm a sorte de arranjar colocação numa escola, outras tantas não têm essa sorte e o que será das suas vidas? É mesmo difícil de dizer…


Envoltas no espírito La Salle, sonhamos que podemos pensar num melhor futuro para todas estas gentes… Porque a informação e o conhecimento constroem aquilo que somos, fazem-nos formar uma opinião, tornam-nos cidadãos plenos!


Este tem sido o nosso maior desafio em todos os dias da nossa missão: transmitir o mínimo de conhecimento que seja às crianças e aos adultos. Do mais simples que possamos saber, estamos noutro contexto e podemos sempre questionar: “Porquê assim? Porque não de outra maneira?!”. Fazer pensar, tentar fazer aprender.


Aqui a nossa missão maior, e que esperamos cumprir, sendo a cada dia que passa melhores, é educar e formar. Na escola fazêmo-lo com as crianças, mas também o fazemos com os adultos.



Deixamos aqui algumas fotografias de algumas formações em que temos participado:
- Formação de professores em informática
O computador é uma importante ferramenta de trabalho. É muito importante que os professores possam modernizar os conteúdos das suas aulas. Assim poderemos facilitar um processo tão simples como o de elaborar o enunciado de um teste…


- Formação de professores da pré, 1ª e 2ª classe em criatividade
Aqui a carência de materiais é imensa, imensa… É importante que estes educadores olhem para a natureza e “desperdícios” como materiais base para construírem materiais de brincadeira e materiais de ensino.





































































- Formação de delegados de turma
O sentido de responsabilidade em relação ao compromisso de aprendizagem tem de ser tomado por estes jovens.





















Temos muitas ideias a fervilhar porque temos muita coisa de que podemos falar.
Vamos manter-vos a par nos próximos posts.
Até lá!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Pôr-do-sol na Beira

Mais um domingo passado na Beira...desta vez, com direito ao pôr-do-sol no mar.

As cores parecem mais fortes! o sol é como uma grande laranja de côr intensa e o céu adquire tonalidades incriveis e radiantes!

Aconselhamos que juntem na vossa "to do list", vêr o pôr-do-sol em África! E nunca se esqueçam que viver em pleno está sempre ao nosso alcance. Basta querer!








quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Jantar Português, "Nota máxima"!

























Numa comunidade com 3 Moçambicanos, 2 Portuguesas e 17 Brasileiros, fazer bacalhau à Brás foi uma aventura. Achamos que a culinária do nosso país ficou bem representada, já que, todos adoraram o bacalhau e o leite creme!

Escola João XXIII

Nestas duas semanas de trabalho efectivo de voluntariado, tem sido na escola que temos passado a maior parte do tempo: quer nas aulas de informática para quase todas as turmas da escola, quer na dinamização das actividade da pré-escola.

Tem sido um trabalho imensamente gratificante para as duas, uma vez que sentimos que todos os inputs e feedback que damos fazem crescer um pouco as pessoas com que lidamos todos os dias.

Entretanto também estivemos a apoiar os voluntários brasileiros, que aqui estão, a reestruturar a organização da Biblioteca da escola.



A escola tem um ambiente bastante engraçado, talvez pelas diferenças que encontramos com Portugal:
- De quando em vez há um ou outro penteado feminino que chamam a atenção, e é mesmo engraçado ver a variedade :)
- Nos intervalos grandes da manhã e da tarde as colunas são ligadas em bom som e a música é imensamente enérgica e bem disposta (ritmo africano puro que bem dá vontade de dançar)
- 2ª, 4ª e 6ª são dias de concentração, o que quer dizer que os alunos se juntam para ouvir uma mensagem do Director ou de um dos professores e cantam todos juntos o hino. Ora vejam no vídeo abaixo:




Quanto a nós... já adoramos este hino e damos connosco a cantá-lo durante o dia :)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

5 dias ou dois meses?


































Aqui na Beira perdemos a noção do tempo...
Entre aulas de informática, pré-escola, brincadeiras com os miudos, passeios na rua e uma convivência constante com a natureza, ainda só passaram 5 dias de vida no terreno...mas já vivemos muito!



Registamos alguns momentos:

No primeiro dia da escola, foi magnífica a forma como fomos apresentadas a toda a população escolar através de um microfone; depois, todos os alunos cantaram o Hino nacional de Moçambique (aliás, como todas as 2ªs, 4ªs e 6ªs, é arrepiante!);


O centro assistencial para crianças de rua foi outro ponto alto destes dias. As crianças vibram com a nossa presença! passam o tempo a dançar, a brincar, dar saltos, jogar à bola e mostar todas as suas habilidades! São muito carentes! Empurram-se para ver quem consegue chamar mais a atenção! Existe um longo e bonito trabalho que pode ser desenvolvido ali!


No regresso a casa é fantástico ouvirmos chamar por nós - "Professora, Professora" - receber "Hi fives!", acenos, sorrisos e um até amanhã!




domingo, 22 de janeiro de 2012

Olá Moçambique!

Depois de uma viagem desgastante, por mais um dia, que nos fez pernoitar no aeroporto de Joanesburgo, chegámos ontem à terra do poema mestiço.




Para já estamos a absorver tudo o que é novidade, e para ser completa, a lista teria de ser imensamente longa, mas deixamos apenas algumas notas iniciais:



  • O sol nasce pelas 4h e põe-se por volta das 6-7h;



  • A missa na igreja aqui perto é mesmo vibrante: a música parece ser de concertos africanos, com batuques e gritos “à moda de África”, e apetece mesmo dançar e bater palmas no fim de cada cântico!



  • A paisagem é muito característica: palmeiras, casas singelas, cubatas em estradas alagadas, devido às chuvadas (tem oscilado entre a chuva e o sol radiante). E por mais que se vejam fotografias é diferente quando a experienciamos… ainda há muita coisa para absorver e nos habituarmos, é uma realidade completamente à parte;



  • Logo que saímos do avião fomos envolvidas pelo calor húmido de Moçambique;



  • A realidade faz com que o nosso estado de espírito oscile durante o dia;



  • As pessoas são muito simpáticas e ao nosso cumprimento retribuem sempre, e com um sorriso rasgado na cara. As crianças posam logo para as fotografias e multiplicam sorrisos! São muito engraçadas!



  • A realidade que cá encontrámos faz-nos ver o quanto somos precisas cá e a enormidade de coisas que podemos fazer. Faz-nos ver também o quanto complicamos a felicidade!

Poema mestiço

Para inaugurar este blog, nós, Mariana e Rosa, voluntárias da ONGD Sopro, escolhemos um poema de Mia Couto que achamos expressar bem o nosso estado de espírito nesta missão.


Poema mestiço

Escrevo Mediterrâneo na serena voz do Índico
sangro Norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum Mundo
hei-de começar mais tarde
por ora sou pegada
do passo por acontecer.