segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FIM de uma missão...INÍCIO de uma vida?


A nossa missão na Manga chegou ao fim. Terminou uma etapa…esperamos que esteja a começar uma vida nova para cada uma de nós.
Estes 9 meses foram muito mais que uma boa experiência. Foram a alavanca para perceber que o ”bichinho” que nos trouxe até cá estava cheio de razão! Era esta a mudança que precisávamos na nossa vida…é isto que nos faz sorrir!
Tudo foi vivido intensamente. Absorvemos a experiência ao máximo, tentámos sempre ver tudo para além do que estava em frente aos nossos olhos, perceber a cultura, criar empatia com as pessoas, quebrar preconceitos… até que de repente percebemos que, aquilo que no início parecia estranho, estava agora completamente entranhado em nós!
Moçambique é um país apaixonante, com pessoas simpáticas e genuínas que em cada esquina param com a sua calma natural apenas para “saudar”, dizendo “Bom dia! Como estão? estão a ir aonde?” ou se for uma criança, “Titia! Está bonita você!!”
Aqui fica um MUITO OBRIGADA a todas as pessoas que nos fizeram felizes. Que foram abertas e nos deixaram entrar no mundo delas. Que nos trataram bem e ainda se mostraram gratas apenas pela nossa presença. Acima de tudo, obrigada por nos terem proporcionado tão grande crescimento interior e por nos terem feito ver que é possível viver de outra forma…muitas vezes com pouco, mas sempre com um sincero sorriso nos lábios.
Neste momento coloca-se a questão: Como vamos conseguir voltar? Embora ainda sem resposta o nosso coração diz que uma parte de nós já pertence aqui. Como dizem os Moçambicanos, “pouco, pouco” vamos conseguir descobrir o caminho de volta.

domingo, 14 de outubro de 2012

Explicações dos bolseiros

Está quase a chegar o dia de fazer as malas… (momento difícil!) Mas levamos na mala coisas que nem nela conseguimos guardar, que vão connosco, entranhadas na pele, no que somos agora, cunhadas por tantos momentos aqui vividos e sentidos!
Vários desses momentos foram partilhados com os bolseiros da SOPRO, quisemos sempre fazer mais por eles, dar-lhes mais apoio complementar, e entre as várias ações que empreendemos como visitas domiciliárias, sensibilização dos encarregados de educação, sensibilização para a importância do estudo, distribuição da merenda escolar, roupas e material escolar, queremos ainda destacar as explicações aos bolseiros.
A afluência foi tanta logo no primeiro dia que tivemos de criar 3 grupos diferentes de estudo organizados por classe: da 1ª à 4ª classe, 5ª e 6ª classe e da 7ª à 12ª classe. Participámos nos dois primeiros grupos e contámos com a ajuda fundamental de dois bolseiros exemplares da 11ª classe para as explicações do 3º grupo – uma esperança para a continuidade no futuro!

Do nosso ponto de vista, esta foi uma iniciativa fundamental não só para e pela aquisição de conhecimentos mas também pela valorização do esforço e pela confiança das crianças e jovens nas suas capacidades.
Com o aproximar da data de partida, a quarta-feira passada foi o último dia de explicações. Das crianças levamos o sorriso e o abraço de agradecimento! Estamos juntos!





sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma semana pela educação em Estaquinha e Barada

Foi, mais uma vez, um enorme privilégio poder viajar até às missões de ESMABAMA. Faltava-nos conhecer Estaquinha e Barada, estávamos ainda mais motivadas do que da última vez, pois esta não era uma viagem apenas para conhecer, mas com a expectativa de darmos também o nosso contributo.
Saímos da Manga no sábado e a “pouco pouco” fomos deixando de ver tanta gente, os carros diminuíram, depois deixamos de cruzar na totalidade estradas alcatroadas… Em tempos diziam-me que nos devemos deixar envolver pelas viagens, que elas são uma preparação para o que nos espera. Foi isso que senti na travessia de batelão do Buzi: que nos aproximamos de uma riqueza no coração de Moçambique.
E se formos atentos as viagens têm mesmo muito para nos contar porque não mudam só as paisagens, mudam os modos de vida, mudam os dialectos, mudam as distâncias que são maiores para qualquer lugar que se possa imaginar, aumentam as dificuldades, a lei da sobrevivência impera!
Por isso admiramos tanto o trabalho que tem sido conquistado pelo Padre Ottorino. Em termos cabais é mesmo impossível descrever o contributo de uma vida inteira dedicada a estas populações, que de outra forma não poderiam ter acesso à educação da 1ª à 12ª classe, a um centro de saúde, maternidade, escola agrária e internatos onde ficam muitos dos alunos mais crescidos que assim acabam por compensar as distâncias incalculáveis.



ESTAQUINHA
Há situações que parecem ser fora da vida real e dificuldades imensas pelas quais passam as populações que muitos achariam difícil de acreditar. Mais uma vez gostávamos de poder trazer até cá todos quantos conhecemos porque às vezes até as fotografias parecem mínimas para mostrar quanto se vive aqui: quando crianças com 6 anos, e de estômago vazio, percorrem todos os dias um caminho de mais de duas horas para poderem estudar todos os dias, é mesmo real; quando uma família inteira e enorme vive numa cubata sem qualquer divisão, é mesmo real; sinto na pele as imensas carências da população com as minhas sapatilhas já rotas a serem cobiçadas por quem nem chinelos tem e caminha, caminha, caminha, caminha descalço…

O trabalho…
Em dois momentos distintos partilhámos com as turmas da 10ª e da 12ª classe “Métodos de estudo” e técnicas para a preparação destes alunos para os exames no refeitório masculino do internato.
Os alunos mostraram-se bastante recetivos e aproveitaram o momento, contrapondo com a sua vivência quotidiana de estudantes e tendo em conta os desafios que encontram.

Com os professores vivenciámos um momento de enorme riqueza que foi o debate que foi gerado ao longo do encontro que dirigimos sobre o papel do professor enquanto vocação e enquanto educador. Foi muito bom contar com uma audiência muito participativa pronta a expor as suas preocupações e os desafios do dia-a-dia sem rodeios e sem meias palavras.




BARADA
Ao meio do dia de quarta-feira, à chegada, fomos logo conquistadas pela paisagem de coqueiros a perder de vista que tornam Barada uma missão tão bonita.
O verde, a proximidade com o mar e com animais mais difíceis de avistar, como macacos que insistem em fazer incursões à horta, parecem transportar-nos para um lugar longe de tudo, uma ilha de esperança para todos quantos nela contribuem, estudam ou se deslocam para receber um tratamento.

Aqui o nosso contributo, devido à passagem mais rápida, foi com os alunos da 10ª e da 12ª classe num espaço, à partida, um pouco invulgar: a capela da missão. Nela reunimos com as 7 turmas da 10ª classe e as 4 da 12ª classe e “evangelizamos” o conceito de estudar, esclarecemos algumas dúvidas, abrimos um espaço de apoio e reflexão por melhores resultados no sucesso escolar.
Mais uma vez foi bom contar com a partilha dos alunos que acolhem estes momentos muito bem.






De volta à Manga já sentimos saudades das missões e das pessoas que fazem as missões. São lugares onde se batalha ainda mais de sol a sol mas com o trabalho conjunto de todos consegue-se dar alento neste oásis para toda a população circundante. Ali ninguém é pobre ou desafortunado, para nós são heróis que caminham connosco!
Por cá também ainda há muito para continuar a fazer, voltámos ao nosso “posto” e a um mês da partida para Portugal não queremos deixar nada por fazer…



P.S.: imagens ilustrativas em breve no nosso facebook pessoal, devido a constrangimentos da largura de banda.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Alertando consciências para o HIV SIDA

A nossa missão em Moçambique foi sempre pautada pela diversidade de momentos de formação que proporcionamos tanto a alunos, como a professores da escola João XXIII.
Durante os últimos 3 meses, todos os alunos entre a 7ª e a 12ª classe tiveram oportunidade de participar duma formação e debate sobre as questões da sexualidade e HIV SIDA. Em Moçambique o número de casos de sida é alarmante… e a província de Sofala, onde nos encontramos, é das mais afectadas. Por isso todos os esforços no sentido de poder clarificar este tema são fundamentais. Esta formação foi proporcionada pela Pastoral da escola, em parceria com a ONG Moçambicana PSI, especializada na área e fundamental para passar eficazmente a mensagem.
A nós competia-nos abrir a sessão, apresentar A PSI e falar sobre alguns conceitos fundamentais quando falamos de sexualidade, como respeito e responsabilidade. O nosso objectivo era passar a ideia de que não devemos ter ansiedade em relação ao início da nossa vida sexual, que devemos ser maduros e saber o que estamos a fazer para não nos prejudicarmos a nós próprios ou aos outros, pondo-nos em situações de risco.
Outras questões mais específicas sobre o HIV Sida ou outras ITS, o uso do preservativo, a gravidez precoce ou indesejada, os benefícios da circuncisão, as desvantagens de termos diversos parceiros sexuais, entre outras, eram tratadas pela PSI, que mostrou sempre muita abertura e facilidade de comunicação com os alunos da escola. Esta abertura e troca de ideias é fundamental para acabar com tabus e ideias falsas que muitos jovens e adultos ainda têm sobre o HIV Sida. Muitos ainda não estão bem esclarecidos e não sabem ainda como este vírus se propaga ou tudo aquilo que devem ter o cuidado de NÃO fazer! Por outro lado, há quem acredite em ideias falsas e perigosas…há quem pense ainda, por exemplo, que os preservativos estão contaminados com Sida e que por isso é melhor não usar.
São inúmeras as questões que devem ser faladas. Sempre e de forma continua! Será a única forma de fazer entrar na cabeça de todos os Moçambicanos que o vírus está aí e qualquer um de nós pode contraí-lo. A única forma que temos de nos proteger é sempre através da responsabilidade e da prevenção! Esperamos que esta formação tenha sido mais um pequeno passo nesse sentido.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Novo desafio: alfabetização


Sentimos imenso carinho pelo Centro Assistencial e Educativo La Salle, é aqui que na maior parte das nossas tardes damos apoio a crianças que no período da tarde se deslocam ao Centro para receber apoio escolar e explicações. Este é também um espaço onde podem brincar e encontrar os seus amigos. Para além disso, é um espaço que serve de refúgio a muitas crianças que de outra forma estariam desprotegidas pelas ruas…

A nossa intervenção começou por ser sobretudo no apoio de explicações. Nessa altura logo reparámos que muitas crianças tinham imensas dificuldades ao nível do português: muitas mal sabiam ler e tinham muitas dificuldades de escrita apesar de se encontrarem em anos de escolaridade acima da 4ª classe.
Decidimos então colocar à prova todas as 3 turmas que tinham aulas de reforço no Centro. Queríamos perceber realmente qual era o verdadeiro panorama e este panorama foi, de facto, assustador: mais de metade dos alunos do Centro, cerca de 80 alunos, não sabia ler nem escrever…

Decidimos, portanto, reformular a organização das aulas e o modo de distribuição dos alunos: não pelo ano que efetivamente frequentam na escola mas sim pelos seus conhecimentos. Desta forma, os alunos foram agrupados em 4 turmas: duas turmas de alfabetização (com divisão pela idade), uma turma com forte apoio na língua portuguesa e na sua componente gramatical e uma quarta turma de apoio multidisciplinar. Para além disso todos estes alunos contam com ajuda na elaboração dos “TPCs”.

Então, desde há cerca de 3 meses para cá, “’pressora” Mariana e “’pressora” Rosa agarraram o desafio de trabalhar com uma turma, batalhando pela literacia destas crianças com idades entre os 8 e os 11 anos.
Procuramos ao máximo estimular estas crianças com a prática do desenho e escrita das letras, jogos de palavras e sons, leitura de contos, o contar histórias, músicas e cantos, dramatização e expressão plástica.
Estamos contentes por ver uma evolução por mais pequena que seja, pois muitas vezes estas crianças não recebiam atenção e não lhes era colocado qualquer nível de exigência…

Em breve com a saída de um dos professores o número de turmas a cargo subirá para duas, aumentando a exigência deste desafio que estamos a adorar!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Heróis ou anti-heróis?


No sábado, dia 2 de Junho, promovemos um encontro entre todos os professores da escola João XXIII. Este encontro foi subordinado ao tema “Professor Educador”, onde quisemos passar uma ideia chave: os professores podem, e isto de facto acontece, ser uma âncora fundamental para os seus alunos, podem ser coadjuvantes no seu dia-a-dia para que eles possam construir uma vida, uma história, um futuro feliz.

Também nós tivemos bons modelos de professores, professores que vamos recordar para sempre, que foram bem mais do que professores e nos souberam mostrar valores, lançar reflexões pertinentes, enfim que nos fizeram crescer enquanto pessoas…

Sentimos necessidade de preparar com dedicação este tema numa das nossas visitas às missões. Isto porque por muito que se fale em investimentos em educação em Moçambique, as lacunas enormes surpreendem-nos todos os dias… O que nos deixa também a pensar “Como podemos nós deixar de tentar melhorar a vida dos que nos rodeiam por aqui, no mínimo que seja?”. Surpreendemo-nos mesmo em constatar, cada vez com mais profundidade, porque também cada vez mais vamos conhecendo o terreno em mais detalhe, que esta terra é quase abandonada e esquecida… Mas isso seria tema de um outro post…

As lacunas na educação passam também pelo corpo docente, em relação ao qual verificámos algumas situações preocupantes tanto no nosso “posto base”, aqui na Beira, como também nas missões (onde há situações gritantes devido ao isolamento): num país onde o desemprego é explosivo e existe uma carência enorme de professores muitos escolhem esta profissão apenas como uma função e não uma vocação; a ética e comportamentos são muitas vezes indesejáveis. Por aqui se pode ver que em muitos casos existe uma ausência de percepção da importância que o professor pode ter – um elo fundamental entre a escola, o aluno e os encarregados de educação. Só podemos contar com cidadãos mais responsáveis se cada uma destas partes cumprir a sua missão.

Desta forma, na formação que preparámos quisemos inspirar os professores para que eles tenham uma visão real da importância indiscutível que eles têm na vida de cada uma das crianças e jovens. Algumas das principais ideias que transmitimos:
- Não devemos olhar para um professor apenas como um mero interlocutor que transmite conhecimentos, mas também como um elemento fundamental na formação de cidadãos conscientes;
- A importância de estar bem informado e ser uma ponte de reflexão sobre temas de formação humana que não podem ser ignorados e reflectem as preocupações quotidianas de todos os alunos: valores e moral; higiene; sexualidade e HIV SIDA; a importância da educação da rapariga e da mulher; a importância do estudo e responsabilidade do aluno e também a responsabilidade do professor, que é fundamental; o respeito pela diferença física e mental ou psicológica dos alunos; o interesse em promover a cultura, ter espírito crítico e manter-se actualizado.



Esperamos ter contribuído para uma reflexão mais aprofundada dos professores. E no final deixámos uma pergunta no ar:


















quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mais um passo para o sucesso escolar

No passado sábado convidámos todos os alunos bolseiros e seus encarregados de educação para estarem presentes, pelas 8h, na escola João XXIII. Os resultados menos positivos do 1º trimestre e o consequente receio que muitos alunos percam as suas bolsas de estudo, foi o que nos moveu a promover esta reunião.
Apesar dos já habituais atrasos à moda moçambicana, a plateia acabou por ficar muito composta! Porque nunca é demais, falamos de vários aspectos relativos às bolsas de estudo (o que inclui a bolsa? O que não inclui? O que fazer para não perder esta bolsa?); consideramos muito importante que todos estejam bem informados para que o projecto de apadrinhamento possa ter continuidade e seja bem entendido por todos.
Mais do que isto, este encontro teve como principal objectivo sensibilizar alunos e respectivos encarregados para o facto de que, só todos juntos, cada um cumprindo o seu papel, conseguiremos alcançar o sucesso escolar. Mais ainda, fazer entender que este sucesso é, não só, a única formula para manter as suas bolsas, mas também para poderem sonhar com um amanhã mais alegre!
Tivemos ainda a satisfação de poder distribuir algum material escolar por todos: 2 cadernos, 2 lápis, 2 canetas e 2 borrachas, foram a preciosa ajuda que foi oferecida a cada um. Acreditamos que, para sermos bons estudantes não basta frequentar a escola…é preciso reunir algumas condições básicas. Como se diz na gíria, não é possível fazer omeletas sem ovos… assim, também não podemos estudar sem ter, no mínimo, como e onde escrever aquilo que vamos aprendendo!
Temos fé que esta iniciativa tenha sido mais um passo no sentido da melhoria, sempre contínua, na vida escolar destas crianças e jovens que, sem dúvida, merecem o mesmo que todos os outros: crescer e evoluir de forma consciente, completa e feliz!