terça-feira, 27 de março de 2012

Lanche escolar para os bolseiros

Em Portugal não precisamos de remontar a muitas gerações atrás para sabermos de casos dos nossos avós ou amigos dos nossos avós para quem estudar era mesmo um privilégio. As famílias tinham poucos recursos, vivendo a maioria da agricultura, e era muito comum as crianças destas famílias irem até à escola de estômago vazio.

Aqui em Moçambique ainda se passa algo semelhante...
Às vezes damos por nós a observar e a sermos surpreendidas pela resistência do povo Moçambicano... Debaixo de um calor abrasador (que a nós de pele clara nos deixa logo "rosadinhas", ou com "tez indiana" no caso da Mariana, e a verter água por todos os poros) cá estão eles a fazer esforços físicos enormes, a percorrer longas distâncias... mas já será bom se pudessem pelo menos ter uma refeição por dia! E assim aguentam os longos dias africanos quando nós certamente cairíamos para o lado...

Também assim é com as crianças, e com as crianças apoiadas pela SOPRO, crianças estas das famílias mais carenciadas... Quando toca para o intervalo elas correm sorridentes até à cantina para lhes ser distribuído o lanche escolar (são 15h15 da tarde mas para muitas esta será a primeira refeição do dia!).

Este lanche escolar (um pão e uma peça de fruta) é um complemento muito importante dado pela SOPRO a todas as crianças que estudam até à 6ª classe. Quem consegue estudar, a bom estudar, de barriga vazia?


Os sorrisos destas crianças maravilhosas dizem tudo...




terça-feira, 20 de março de 2012

Visitas às Missões - Parte II





A visita à missão de Mangunde foi especial. Aguçou ainda mais em nós a vontade de desenvolver trabalho humanitário por Moçambique fora…

Quando chegámos a Mangunde, depois de um dia inteiro na estrada, fomos acolhidas com um delicioso jantar na casa das Irmãs Combonianas, aliás onde permanecemos, muito bem instaladas, durante os 3 dias da nossa estadia lá.

Acordámos no dia seguinte na expectativa daquilo que iríamos encontrar. Apesar de já termos estado na missão de Machanga e conhecermos assim os traços principais de uma missão, sabíamos que Mangunde era maior, um pouco mais desenvolvida, e que, cada missão acaba por ser única. Aqui sim, tivemos tempo para conhecer tudo com mais pormenor e apercebermo-nos da realidade, bem como da forma como poderíamos intervir. Apesar do isolamento que se sente no início, a experiência de viver numa missão acaba por ser muito forte e essa sensação de isolamento vai desaparecendo, dando lugar a um grande sentimento de paz!

Percorremos tudo: A escola (onde falámos com o pedagógico sobre as principais necessidades e assistimos a uma aula de Inglês), a escola agrária, os internatos (masculino e feminino, ambos com regras de funcionamento rigorosas, onde os alunos trabalham em equipa para que tudo funcione bem, desde a cozinha aos balneários), o centro de saúde (que tem também maternidade e centro de testes e tratamento para o HIV Sida), a padaria, as machambas, a igreja, o rio e até o enorme embondeiro (símbolo de ESMABAMA e marco da chegada a Mangunde).




Embora com a falta de muita coisa, a missão de Mangunde consegue dar a muita gente uma vida melhor e, sobretudo, a esperança num futuro mais promissor! Quantos jovens e crianças podem assim ter acesso à educação e a padrões e valores de vida que dificilmente teriam se não existisse esta missão? Mais, quantas pessoas que devido ao grande isolamento, só desta forma têm acesso a melhores condições de saúde?

Que valioso é o trabalho desenvolvido pela equipa de ESMABAMA… e que vontade de também nós podermos abraçar este projecto!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Visitas às missões – parte I

As Missões de ESMABAMA (“ES” vem de Estaquinha, “MA” de Machanga, “BA” de Barada e “MA” de Mangunde) foram missões construídas pelos missionários portugueses na província de Sofala (província a que também pertence a cidade da Beira). Com o término do regime salazarista a igreja perdeu poder e o suporte por parte dos missionários portugueses nestas missões em Moçambique também teve o seu fim. Veio a independência e a guerra civil e as missões ficaram sem que ninguém lhes indicasse rumo…
Chegado o ano de 1990, ainda em plena guerra, foi lançado ao Padre O., missionário Comboniano, o desafio de revitalizar todas estas missões. Mesmo em plena guerra teve a coragem de vir para Moçambique e abraçar este projecto apaixonante com uma caminhada também muito íngreme de muitas batalhas.
Durante estes 22 anos tem feito um trabalho muito louvável, sempre com a colaboração dos irmãos Lassalistas e outros missionários combonianos, entre outras entidades.
Foi dele que apanhámos boleia para conhecer a missão mais longínqua, Machanga, ouvindo histórias que nos fascinaram durante os mais de 600 km que percorremos no domingo.


Até Machanga fizemos cerca de 440 km, alguma da estrada em bom estado mas tanta outra com “buracos-cratera”, estradas estas que são muito concorridas com os grandes camiões de mercadorias (não poucas vezes se vê um camionista a tentar resolver um problema de avaria), e ainda um troço de 60km de terra batida em versão todo o terreno. Todas estas questões tornam as viagens muito mais longas e cansativas, mas são viagens que valem muito a pena!


Em Machanga pudémos começar por conhecer a organização geral das missões: são constituídas por um internato feminino e outro masculino, o edifício geral da escola (que é o mesmo da escola agrária, semelhante a uma escola profissional) e um centro de saúde (neste caso localizava-se fora da missão, apenas alguns metros mais à frente).
Apesar da passagem fortuita de pouco mais de duas horas, muitas coisas marcam seja pela tenacidade com que se debatem as pessoas dedicadas à missão, seja pela força de vontade que as crianças e jovens têm de ter para percorrerem quilómetros para poderem estudar ou por partilharem o seu espaço e comida com tanta gente que tal como eles podem sonhar com uma vida melhor…


Dissemos adeus a Machanga e estávamos de novo de volta à estrada. Percorremos para cima de 200km, pelo caminho algumas aventuras e uma paisagem de encher o olhar… corujas de braços longos que se elevavam pela passagem do carro no “seu caminho”, o céu estrelado sem igual, o céu que se coloria com o relampejar de alguns relâmpagos…
Bem de noite apenas dissemos olá a Mangunde, missão onde acordaríamos nos dias seguintes… (estes são relatos para os próximos posts)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sensibilização junto das famílias dos bolseiros

Grande parte dos bolseiros apoiados pela SOPRO são de Chimpaca, um bairro que fica mesmo por trás da escola João XXIII. Enquanto voluntárias no terreno assumimos como grande compromisso a sensibilização das famílias, e dos próprios alunos, para a importância do estudo.


O primeiro passo tem sido dado junto das famílias, quer em reuniões na escola como em visitas às casas destas famílias mais carenciadas, que precisam do apoio das bolsas da SOPRO.
Nestas reuniões as famílias são esclarecidas sobre o protocolo estabelecido entre a Escola João XXIII e a SOPRO, de modo a que tenham conhecimento das regras a serem cumpridas para a manutenção da bolsa. Aqui são importantes algumas questões como o aproveitamento escolar e o bom comportamento das crianças, entre outras.
Para além disso, realçamos como é importante incentivarem as crianças e jovens ao estudo, acompanharem os conteúdos dados nas aulas, darem-lhes tempo para além dos afazeres em casa para estudarem, estudarem eles mesmos com eles ou pedir a um familiar ou amigo que estude com eles, assim como manterem o contacto com a escola e os professores – estas entre outras dicas.


Durante as nossas visitas a Chimpaca fomos sempre brindadas com uma recepção muito carinhosa por parte das crianças. Como somos diferentes, e novidade, elas seguiam o mesmo percurso que nós, sorriam e cantavam. Quando dávamos por ela já tínhamos mais de 20 crianças atrás de nós que a pouco e pouco foram ganhando confiança. E, com confiança conquistada, agarravam as nossas mãos… Nunca pensámos que em cada mão coubessem mais 5! (Eles não se importam de partilhar e já ficam todos felizes por agarrar um dos nossos dedos)



Não podemos terminar este relato sem referir o quanto as famílias destas crianças nos agradecem. Por isso daqui, directamente de Moçambique, e para os padrinhos e madrinhas, também o nosso muito bem hajam por darem esta grande oportunidade a estas crianças. Nascer numa situação como a delas é muito limitativo mas esta oportunidade de estudo pode tornar muita coisa reversível. Estas crianças e estas famílias ganham esperança e sonham com um futuro melhor… São os padrinhos que tornam tudo isto possível!